É largamente sabido que a produção da Bauhaus, a lendária escola de Artes e Arquitetura da Alemanha, ajudou a moldar gerações de artistas e, de certa maneira, também uma generosa porção de nossa cultura contemporânea. Mas como uma filosofia de ensino tão enraizada poderia ainda reverberar e, a partir do início do século XXI, construir uma reinterpretação de suas origens?
A oportunidade de uma reflexão franca e apaixonada sobre como a modernidade torna-se tradição e, novamente, transmuta-se em vanguarda rapidamente preencheu a nossa imaginação. Antes que pudéssemos perceber, havíamos embarcado nessa jornada.
Seguiram-se então as análises do sítio físico e um corpo de diretrizes logo surgiu. Um lugar repleto de árvores, muitas delas já bem antigas; um belo conjunto de edifícios centenários a delimitar o entorno urbano imediato; uma área de interesse arqueológico no qual escavações não eram desejadas, em razão de interesses históricos, geológicos e financeiros; e a presença no sítio de monumentos que servem para lembrar o mundo sobre a sua história recente.
O passado é vividamente presente no Parque Urbano de Dessau. A ideia do museu finalmente ganhava forma: o profundo respeito por tudo o que havia sido forjaria o desenho que estava prestes a vir a ser. O passado construiria o futuro em uma interconexão, em um laço de causalidade. O próprio ciclo da vida.
Desde os primeiros esboços, referências formais diretas à clássica produção da Bauhaus foram evitadas. Nosso compromisso deveria permanecer concentrado na fidelidade aos conceitos fundamentais da lendária escola alemã: novas técnicas como resposta a um novo século, ênfase na materialidade e exploração do potencial criativo da tecnologia. Certos de que o entendimento desses princípios nucleares nos levaria a uma compreensão sociocultural mais ampla acerca da ideologia da Bauhaus, estávamos determinados a superar eventuais rasas interpretações sobre o icônico formulário estético daquelas pessoas, naquele lugar, naquele tempo.
Queríamos cavar um pouco mais fundo.
E assim trabalhamos. Nossa pesquisa foi então direcionada à análise do que seriam as características fundamentais de nossa sociedade neste início de século XXI. Transparência, fluidez espacial, interconexão e uma peculiar e complexa simplicidade nos parecem moldar este nosso novo século. Nosso desenho tentaria buscar solidez nesses apoios.
Sob a óptica desses princípios, a definição do problema levava a uma clara e natural solução: árvores ditariam a direção que os invólucros deveriam seguir, de maneira que nenhuma delas seria tocada ou removida, e o lançamento dos eixos de passagem do edifício seria totalmente disposto sobre os caminhos já existentes no terreno.
O lançamento estrutural seria então resolvido com amplas lajes nervuradas a descansar sobre pilares de seção circular, de maneira a manter o nível do solo tão transparente e desocupado quanto possível, com a circulação dividida em um eixo público a abrigar as atividades dedicadas aos visitantes e em um eixo de serviços a acomodar serviços e operações de logística.
Em obediência a esses princípios, a edificação desenhou-se como uma forma simples, dois triângulos interconectados por um de seus vértices. Um espaço fechado, otimizado para a conservação dos acervos, então tomava corpo e sua área de convergência com o solo era mantida em um único ponto. Algumas poucas e grandes aberturas foram ainda encravadas nesse envelope, a fim de permitir que árvores crescessem de dentro ou para dentro da edificação.
Nascia assim um delicado laço a envolver todo o espaço, um museu com seu fim em seu próprio início.
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